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Pedimos licença aos leitores(as) para fazermos uma homenagem. Uma homenagem especial para uma pessoa rara. Trata-se do colega professor Mário Martins de Oliveira Jr. que faleceu no dia 08 de janeiro último. O poeta e ensaísta mexicano Octavio Paz (1914-1998) tinha uma máxima para se referir à forma como algumas pessoas morriam. Dizia Paz, que morremos da forma como vivemos, e se morrermos de forma diferente daquela que vivemos é porque não foi nossa a vida que vivemos. Pensamos que essa máxima se encaixa perfeitamente à vida do colega e professor Mário. Mário era daquelas pessoas que levava a vida com leveza e alegria. Não conhecemos ninguém que lembre ter visto o professor Mário levantar a voz para alguém.
Mesmo quando discordava, o professor Mário o fazia com gentileza. Como naquele diálogo do filme "O Extraordinário" quando dois personagens conversam e um diz para o outro: "Quando tiver que escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil". Mário Tinha opinião sobre o que considerava certo ou errado. Não se omitia. Mas sem perder nunca a gentileza. Mário era uma pessoa muito bem humorada. Com seu jeito brincalhão, sempre tirava uma piada da cartola para descontrair um momento difícil. Mário, depois de tantos anos de vida, continuava a surpreender mesmo as pessoas que o conheciam de décadas como as filhas Valeska, Waléria e Vânia. Elas tiveram uma surpresa quando, após a morte do pai, ao guardar um casaco que ele usava em sua casa em Itaara encontraram, num dos bolsos, um punhado de farelo de pão. O Mário, após o café da manhã, recolhia os farelos de pão que ficavam sobre a mesa e guardava no bolso. Durante o dia, ia distribuindo para os passarinhos que vinham cantar perto dele enquanto ele lia o jornal. Agradecer antes de apreciar. Nas refeições, mesmo antes de provar, já declarava que havia apreciado. Essa postura frente à vida continuava no seu cotidiano quando perguntavam como andava e, mesmo com a saúde frágil, já no hospital, dizia: "cada vez melhor". A energia alegre e bem humorada frente às situações lhe produziu bons encontros. Encontros que revelavam as aprendizagens lembradas por pessoas que conviveram com ele, estudantes ou colegas das escolas por onde passou. Suas marcas foram pessoais e profissionais como a liderança como diretor. Sua paixão pela docência, quando se descobriu professor, trocada pela atuação na área do direito, também inspirou suas filhas. Sua paixão pelo cinema quando levava para casa, num único final de semana, vários DVDs locados e distribuía entre as filhas, nos contagiou.
Professor Mário, gostava de ler vários jornais, sempre separando alguma matéria para conversar com as filhas, com outras pessoas ou um assunto específico com cada uma. Cultivou nas filhas o hábito da leitura, com a compra de enciclopédias, que eram vendidas nas escolas e, mesmo cortando pequenos recortes de jornal, deixados na cabeceira da cama. Visualizava que as práticas de leituras da escola não eram muito estimulantes. Somos de uma geração que ler na escola era para produzir fichas de leitura, uma obrigação. Mário, pessoa e professor, deixou amigos(as) na cidade de Restinga Sêca, onde iniciou sua docência e participou de uma comissão, junto com Leonina, sua companheira de longos e intensos anos de vida, para a criação do Ensino Médio na cidade. Mário amor e humor, como bem disse nosso amigo Bispo Francisco, da Igreja Anglicana, selecionando duas palavras para falar dele na passagem e despedida. Ficaremos com teu legado de pessoa e professor, para fazermos o melhor com ele nesse mundo que precisa tanto de palavras como obrigado. Mário fez certeira a máxima de Octávio Paz, morreu como viveu, semeando gentileza e amor. * Valeska Forte de Oliveira, professora da UFSM, assina o artigo em parceria com Valdo Barcelos.